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19/04/2011
Artigo do presidente da OAB/NH: Rezar já não é suficiente.

O drama vivido pelo Monsenhor Schuster revela a fragilidade de nossa sociedade, organizada em torno de pilares como o Estado Democrático de Direito, um conjunto de diretrizes que nos impõem direitos e deveres, reservando ao Estado o monopólio da Justiça, a aplicação das leis ao caso concreto, a regulação das condutas individuais e coletivas, a repressão das infrações, a aplicação das penas e a ressocialização do infrator.

Isso, na teoria. O infrator, ao que se sabe, ostenta farta folha corrida, sinal de sua evolução natural dentro desse sistema, em que o preso por crime menos grave sai escolado para crimes mais graves. O Estado que deveria reeducar mal e mal consegue prender, nem manter preso, muito menos ressocializar. Quando algum criminoso potencialmente perigoso se regenera, vira notícia, pois é algo incomum.

Nessa covardia cometida contra Monsenhor Schuster, houve quem dissesse que se o criminoso soubesse que a vítima era padre, não teria atirado. Ora! Não teria atirado se, no caminho de casa até a casa paroquial, em roteiro que presumo o bandido tenha elaborado minuciosamente, tivesse sido desestimulado pela presença do estado, da polícia ostensiva em alguma das esquinas do trajeto. Se há algo de que sentimos falta nessa cidade é da polícia ostensiva, em freqüência mínima que faça lembrar a presença do estado, que desencoraje, sugira um mínimo de risco para o bandido, capaz de lhe fazer reavaliar sua ação, quiçá desistir, ponderar. Mas, não. Mesmo em locais centrais e muito freqüentados, como as cercanias da Igreja da Piedade, a presença do Estado não se fez notar, deixando livre o caminho do algoz do Monsenhor.

Daí para se repetir a praxe, foi um pulo, pois atiramo-nos todos no encalço do agressor, a cidadania injuriada, os homens de bem, torcendo pelo êxito da caçada, capitaneada pelo destemido e experiente Delegado Enizaldo e seus pares. Se já não somos capazes de agir preventivamente, restava-nos correr atrás, ainda tomados de estupor diante da audácia do bandido.

Se a reza não salvou Monsenhor Schuster naquele momento de máxima frieza e descompaixão do atirador, lhe valeu a força para resistir, lutar pela sobrevivência, e as alvissareiras notícias de sua recuperação. A sua fé inabalável e comovente, capaz de reanimar a chama do mais apagado dos fiéis, sua motivação quase juvenil saltando aos olhos, envergando a missão de evangelizar nessa realidade moderna tão desfavorável, é uma benção para nós paroquianos e admiradores, mas não livra as autoridades de revisarem sua missão, seu dever de casa. No dia em que acharmos tudo isso normal, desde que não tenhamos tombado nós mesmos, terá ruído a última pedra do Estado Democrático de Direito e nos restará a Igreja, para consolação e penitência.


Pedro Brand – Presidente da OAB/Novo Hamburgo