Justiçamento e Barbárie
Ficamos surpresos quando uma jovem advogada confidenciou que deixaria de advogar e buscaria outro meio de vida pois estava profundamente decepcionada. Voltava de uma Vara de Família e Sucessões onde uma determinação preliminar sobre alimentos fazia ano e não era cumprida e sua cliente estava passando fome e decaindo física e psicologicamente. Este fato é normal e muitos outros tipos destes fatos se acrescem. Por várias razões falar com um juiz passou a ser uma odisséia. A face humana da Justiça se substituiu de forma global pelo pragmatismo e técnica. Além disso, outros fatores são ponderáveis.
Os desmandos em todos os níveis de administração pública, expostos diariamente na mídia causam imenso prejuízo à nação. Além do dano econômico, resultam em consequências piores, de ordem imaterial. Geram dor, revolta e desesperança. A insegurança acarreta o medo e, com ele, a descrença nas instituições.
Um padrasto abusou de uma criança de quatro meses, levando-a à morte. Foi um barbarismo sem qualificação. Depois este criminoso teria sido eliminado também de forma cruel por terceiros.
É comum no Brasil corrupto e onde prevalece a descrença sobre todas as autoridades, embora em níveis diversificados, reinar a selvageria. Linchamentos se repetem. O sistema policial e prisional está falido, como aliás Governos Federal e Estaduais, apesar do esforço de dedicação de alguns abnegados, que labutam dentro do caos.
Mas a impunidade, em todos os níveis, deve ser combatida.
A diferença entre barbárie e civilização, porém, não é difícil de compreender. Na civilização, os criminosos são minoria, e são punidos de acordo com a lei. Na barbárie, os criminosos são a maioria, e estão nas ruas, com paus e pedras, a brutalizar quem bem entendem – e dão a seus atos o nome de justiça.
Metade da população das grandes cidades brasileiras acredita que “bandido bom é bandido morto”, conforme constatação em recente pesquisa.
A sociedade não vê uma saída concreta para a violência e, por isso, alguns entendem que o único jeito de acabar com ela é por meio do extermínio físico do criminoso e muitas vezes, especialmente em São Paulo, tem como seu agente a própria polícia.
Não é possível tolerar que a falta absoluta de segurança possa se transformar em selvageria.